Pedro Marques

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Necrose e vida

O Centro Histórico de Abrantes está a morrer. Melhor, tem vindo lentamente a morrer e agora a doença de que padece sofreu uma agudização.
Têm sido esboçadas diversas curas mas a doença parece ser mais forte e, tal como sempre sucede nesses casos, traiçoeira e impiedosa, ameaça liquidar de vez o outrora viçoso, pujante e emblemático centro comercial e de serviços de Abrantes.
Uma cidade histórica sem Centro Histórico forte faz lembrar o anúncio antigo da pasta medicinal Couto.
Sendo o Centro Histórico de Abrantes, tal como em geral os centros históricos, uma questão económica e social, não deixa de depender da vontade do planeamento e de questões de política urbanística.
Merece, pois, tanto empenhamento privado quanto público.
Quando nada disso sucede, a doença apodera-se do organismo.
Tudo junto, redunda naquilo que costumamos designar de bloqueio colectivo que conduz à necrose dos tecidos que, por sua vez, alastra ao organismo e o mata.
Muito pode ser feito. E tem de ser feito. Urgentemente. Basta de contemplações e palavras fáceis que só adiam a decisão.
Como diz o Ricardo Araújo Pereira, "eles falam, falam, falam, mas não fazem nada. Fico chateado, pá!, é claro que fico chateado". Ficamos todos, tenho a certeza.
É verdade que a autarquia investiu largas centenas de milhares de contos em projectos urbanísticos e arquitectónicos de melhoria da imagem do centro e que este está mais bonito e mais agradável para o peão.
É verdade que os comerciantes, em geral, aderiram e investiram, ao tempo, cerca de 500 mil contos do seu esforço na modernização comercial dos seus espaços, num projecto global da ordem do milhão de contos financiados a 50% pelo Procom.
É verdade que tem sido prometida uma dinâmica nova, forte, que obrigue a fazer sentido o próprio termo "dinâmica". Mas não. A dinâmica tem sido muito mais estática do que dinâmica.
É igualmente verdade que o conjunto de novas superfícies comerciais, com postos de trabalho maioritariamente precários e sem sede social no concelho,de onde pontificam como expoentes as "catedrais do consumo " Modelo, Feira Nova, Lidl e Intermarché, até agora, e a que se irão juntar em breve as insígnias Plus e Dia/Minipreço, conduzem os fluxos de clientes para a periferia do outroro centro inquestionável da cidade.
Surgiram novas centralidades, poderão surgir mais - em Alferrarede, na Chainça ou no Rossio (menos provável).
O que fazer, então, do futuro do Centro Histórico? Para onde caminhas Abrantes? O que te estão a fazer e o que deixas tu que te façam?
Recordo-me da história do "Pelicano". O histórico café, que hoje dá lugar a uma cadeia de franchising na área da confecção feminina, atravessou anos de crise.
Um dia, o corajoso Manuel Passos, de quem sou amigo, tomou uma decisão dolorosa - o encerramento. Ouviram-se logo os defensores do estabelecimento pedirem que isso não acontecesse, que se tratava de um "crime", que o café era de todos nós, etc e tal.
Abordei o Passos e ele respondeu-me simples: "se todos os que agora falam tivessem sido sempre clientes do Pelicano e o ajudassem a superar as dificuldades, o café estaria aberto. Mas, infelizmente, muitos dos que agora criticam o encerramento, pouco ou nada fizeram para evitar o que aconteceu, frequentando o espaço". Economicamente, fui forçado a concordar com ele. O problema estava a montante. Já pouco havia a fazer.
Daqui, parto para o conjunto do Centro Histórico.
Faço um apelo a todos os abrantinos: se querem ter um Centro Histórico mais vivo, mais dinâmico e que possam ressurgir, usem-no nas vossas compras. Vão menos ao Entroncamento, ao Campera, ao Colombo ou ao W, em Santarém, e mais ao Centro Histórico de Abrantes.
Façam compras, passeiem nas ruas, vão ao café, mas ajudem a criar movimento de pessoas na cidade. De semana e ao fim-de-semana.
Depois, faço um apelo aos comerciantes. A renovação de espaços, a introdução de novas insígnias de referência, de marcas-âncora, é fundamental. Vejam o que se fez no Fundão, na Covilhã, em Portalegre ou nas Caldas da Rainha, isto só para citar cidades sensivelmente equivalentes em termos de dimensão. Uma loja tem que se adpatar aos novos tempos, tem que mudar de decoração, introduzir novos conceitos de fidelização, novas atracções dentro do espaço.
Os horários de funcionamento são hoje outra razão forte para fazermos compras em supermercados. Mesmo depois do horário de trabalho, estão abertos e vão pela noite dentro, com o supermercado e a loja de roupas, de calçado, de electrodomésticos, de jornais, o café, a loja de flores, de animais, de telemóveis, de acessórios de moda, a lavandaria, etc. Não se pede ao comércio de rua que esteja aberto até às dez da noite, tanto mas deve pedir-se mais do que as 19 horas actuais que nos são concedidas como horário de encerramento. Só que isso implica uma revolução de mentalidades, alteração do sistema de transportes públicos, eventual aumento dos custos (quando o importante é reduzi-los) e mais segurança.
Mais um apelo, agora dirigido à associação que deve defender os interesses dos comerciantes e proprietários de estabelecimentos de serviços. O compromisso que assumiram com a eleição deve norteá-los a, sempre, de modo obstinado, tudo fazerem para revitalizar a importância e pujança do centro histórico.
Uma palavra final de apelo devo ainda dirigir aos poderes públicos.
A autarquia, através da federação de todos estes agentes e da visão inovadora e definição do modelo que tem para o concelho, pode e deve ajudar. Muito.
Através da opção que vier a fazer sobre a sua própria permanência física, enquanto instituição com instalações e trabalhadores, no Centro Histórico.
Através da defesa do regresso de alguns serviços públicos para edifícios devolutos, como é o caso do antigo Centro de Emprego.
Através do estímulo à recuperação de habitação do centro.
Através da apoio à criação de um movimento cultural para todos, de abertura de espaços de reflexão e de crítica, livrarias, galerias de arte, novos e actuais museus abertos ao fim de semana, biblioteca a funcionar ao fim de semana, posto de turismo com promoção de valores culturais, etnográficos de patrimónios naturais e construídos.
Através da definição sobre o pagamento ou não pagamento do estacionamento no centro da cidade, algo que é sempre gratuito dos hipermercados e centros comerciais.
Através do apoio a mecanismos e sistemas de transporte mais eficientes, mais eficazes, mais regulares e com horários mais alargados, entre todos os pontos da cidade e entre a cidade e a periferia.
Através da promoção forte que tem que ser feita sobre a qualidade dos espaços existentes e que seja capaz de atrair públicos de vários pontos do país.
Através da definição de novos espaços de atracção no centro da cidade, com novos estacionamentos e novos espaços comerciais e de serviços. O nosso problema é, também, um problema de falta de escala e por isso temos que ter mais quantidade e mais qualidade.
Por isso, urge definir o que irá ser feito na Tapada da Fontinha, por exemplo, um local de excepcional localização potencial de reforço da centralidade do Centro Histórico (passe o pleonasmo).
Todas e estas questões farão parte de um debate público que o PSD irá lançar no início de Março. Aberto a todos. Ansioso pela presença de todos.
Porque é urgente parar para reflectir, pensar e estudar como mudar.
E fazê-lo mesmo!
Podem contar connosco.
Podem contar comigo nessa causa.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Combate ao populismo

No anterior texto escrevi – como sempre faço – discorrendo naturalmente sem me fixar a um único tema.
Olho hoje para o texto e o que mais ressalta é que acaba por surgir uma ideia central de combate ao populismo.
Parece-me bem. Não me envergonho do escrito.
Este exercício de escrever sobre o pensamento político contemporâneo não é um exclusivo dos pensadores, mas também dos responsáveis políticos.
É um exercício arriscado, que toca nas fronteiras da teoria política (onde possuo handicap formativo), a ciência política (de que não sou especialista mas apenas um curioso), a filosofia política (essa é mais a área dos meus adversários), sobretudo porque há sempre contributos inigualáveis da chamada filosofia do direito e também não sou advogado.
Não sou de ciências exactas mas antes de um ramo mais tecnocrático das ciências sociais. Venho da área de gestão, com especialização económico-financeira. Gosto porém, como já disse, de estudar e conhecer, pensar e reflectir, para poder decidir.
Sei que ainda tenho muito que ler, que estudar, que conhecer. Mas cá vou andando, ao ritmo que posso e que as circunstâncias permitem.
Se quiserem, ao escrever estas palavras e consciente dos riscos que corro, acabo por fazer parte do grupo dos que aderiram à “teoria política normativa”, ou seja, a teoria política que se preocupa com a reflexão sobre os valores. Não sei se algum dia terei talento ou dimensão para contribuir com novas reflexões, empiricamente sustentadas, para este mundo vasto do conhecimento e do pensamento em geral. Muito provavelmente, não.
Mas sei que há alternativos campos de estudos, sobre o pensamento e sobre os discursos ou retórica política. Qualquer um dos dois me fascina. Há ainda um outro campo, mais dirigido à ordem internacional, sobre o qual tenho lido menos e que consome menos tempo às minhas leituras, confesso. Tenho que ler, no futuro, mais sobre o assunto, talvez começando com Habermas e com a sua Ética das Relações Internacionais. Dentro dos contemporâneos, claro.
Mas, lá está: volto sempre aos valores, à doutrina, ao pensamento e ao conhecimento.
Como forma de sustentar a prática e a teoria política normativa de que preciso, de que me socorro para pensar o futuro do meu concelho e da região a que pertenço.
É urgente afirmarmos todos a necessidade de aprofundarmos o nosso conhecimento, sobretudo numa época marcada pela incerteza, pela crise de valores, pelo populismo e também pelo niilismo.
No niilismo, como disse Nietzsche, “os valores mais altos perdem o seu valor”, mas também nos disse que, marcados pelo niilismo, as sociedades perdem o “objectivo e perdemos as nossas próprias bases”.
Não podemos continuar no vazio, na negação, na ausência de tudo.
Importa, pois, regressar aos valores, uma questão que tem estado muito na agenda mediática mas que levou já, em 1946, Albert Camus a questionar-se dizendo: “Não concordam que somos todos responsáveis pela ausência de valores?”. Durão Barroso lembrou estas palavras, tão avisadas quanto sábias, há dias atrás aquando da apresentação do livro “Pensamento Político Contemporâneo”, de João Carlos Espada e João Cardoso Rosas, numa intervenção proferida no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa.
Os valores são, assim, fundamentais. Só sustentados em valores – positivos ou negativos – poderemos ter a noção do que deve ser feito, do caminho que temos que percorrer ou evitar percorrer.
O populismo é uma ameaça aos valores. Hoje em dia, voltando a Durão Barroso, o populismo exprime-se “em três nãos, dois no plano interno, um no plano externo: o não à imigração, o não à Europa, ou à União Europeia e também o não à globalização”. Se os dois primeiros se podem atribuir mais à direita, o terceiro não deixa de ser uma forma de populismo, só que à esquerda. O populismo não é, desse modo, património exclusivo da direita ou da esquerda. Infelizmente, grassa de uma ponta à outra do espectro ideológico.
O que há de comum no populismo, seja no plano internacional, no plano nacional ou mesmo no plano local? Uma das características que marcam o populismo reside na sobre-simplificação dos problemas. Outra, na exploração das ansiedades e medos das pessoas, na manipulação em função dos tais valores positivos ou negativos, tudo dependendo da perspectiva em que se pretende conduzir a intervenção. Outra característica do populismo reside na exploração da sociedade de massas, nomeadamente os media. Já Popper referia que as televisões, por vezes, “podem ser inimigas da democracia”, do aprofundamento do conhecimento e do pensamento, da investigação, da reflexão, do estudo, justamente porque nivelam a sua programação por baixo e puxam para baixo o nível da sociedade.
Sem dramas, nem soberba, nem arrivismos, importa saber se as elites intelectuais e políticas estarão à altura deste desafio de, positivamente, combaterem o populismo e o niilismo através da introdução do rigor, da verdade, do respeito pela condição da pessoa humana, da recusa à venda de ilusões, da fuga à maquilhagem dos episódios políticos que enformam a nossa sociedade, do efémero em prejuízo do perene.
Como é que alguém pode ganhar eleições recusando-se a ser populista?”, pergunta o meu outro eu. Ou, socorrendo-me de uma questão que igualmente apoquentou Durão Barroso, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Armando Fernandes (um grande mestre) e outros companheiros do meu partido antes de mim, “será possível ser popular sem ser populista?”.
Questão complexa, de resposta difícil, anoto de imediato. A fronteira entre popular e populismo, em política, é ténue, muito ténue. A deriva populista é uma falácia mas quase sempre uma inevitabilidade para quem pretende ser popular. Requer um elevado espírito de concentração e disciplina mental. Mas sem se ser popular não se asseguram vitórias eleitorais.
Onde encontrar conforto? Para mim, na revisitação permanente dos clássicos, que não me foram ensinados nem dados a conhecer na minha juventude com a profundidade que hoje reconheço fazer-me falta mas que comecei a estudar com cada vez mais interesse. Olho para esses grandes criadores do pensamento, da teoria política, da ciência política, da filosofia política e da filosofia do direito com enorme respeito. Vejo neles uma elite, de Homens que quase sempre conseguiram ser imortais porque resistiram à massificação, à trivialização, porque não contribuíram para nivelar por baixo a sociedade do seu tempo.
Que enorme diferença para os dias de hoje, constato com tristeza.
Por isso, procuro fazer um exercício sério de busca interior, de trabalho pela qualidade, inserida numa sociedade aberta, plural, democrática, tolerante e humanista. Numa sociedade que tenha capacidade de regeneração e que, sem revoluções ou rudes golpes de sistema, consiga trilhar um caminho, o novo mundo de que falava no anterior texto e que (ainda) acredito ser possível alcançar durante o período da minha vida.
Para isso, tenho que ser capaz de explicar o que me separa do modelo jacobino que o PS tem vindo a desenvolver neste concelho. Por palavras simples e explicadas, demonstrar que o nosso Robespierre local não pode continuar nem passar o testemunho como se de uma oligarquia se tratasse e nela vivêssemos de modo consciente e voluntariamente desejado.Penso que vou ser capaz.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Estilos

Cada pessoa tem o seu estilo próprio, a sua maneira de ser e de estar no Mundo.
Eu tenho a minha. Não é seguro que seja a maneira mais correcta ou o estilo mas apropriado, mas é o que decorre na minha própria existência.
Às vezes sou abordado por pessoas que, de modo generoso, me dizem que tenho que ser mais popular (entendo logo populista), mais simpático (entendo sorridente e que dê palmadas nas costas) e que tenho que conviver mais (beber uns copos de modo generalizado, todos os dias em vários cafés), etc, etc.
Se calhar, devia ser assim. Mas não seria eu. Contudo, tenho feito alguns progressos a este nível.
Sou feliz com a vida que levo, tenho motivos para ser feliz mas conheço bem os dias difíceis. Sou normal. Porém, em vez de exteriorizar os meus sentimentos numa folia artificial, procuro ser cada vez mais exigente comigo, estudar, ler, pensar, reflectir, escrever, ouvir música, ver televisão, estar com a minha família, em particular os mais chegados.
Tenho uma forte ambição: fazer de Abrantes um concelho mais forte, mais desenvolvido, mais próspero. Uma espécie de "outro mundo", para melhor.
Qual? Em que consiste? Como se alcança?
Essas são questões ou dúvidas que terão que ser resolvidas ao longo dos próximos meses, aqui neste blogue e noutros espaços de discussão, encontros, reflexão, com muitos cooperantes, militantes e simpatizantes.
Bem sei que, ao mesmo tempo, temos que dar passos concretos de demonstração de capacidade de excução. Já o estamos a fazer, apoiando diversas colectividades do concelho, estando ao lado de quem empreende e ajudando nessa missão, fazendo contactos, assegurando apoios para o nosso concelho, defendendo pontos de vista.
Já lá vão cerca de 130 anos desde que Marx afirmou que "cada passo de movimento real vale mais do que uma dezena de programas", mas estes não deixam de ser importantes e uma ferramenta importante de orientação, uma bússula para não perdermos as referências cardeais.
De resto, esta frase de Marx foi proferida num contexto particular, numa carta enviada a Bracke, provocada pela crítica ao primeiro programa de Gotha, em 1875.
Frase e contexto distinto envolveu o pensamento de Eduard Bernstein, homem forte do "Revisionismo Reformista", que constituiu igualmente uma fonte de inspiração para os social democratas durante décadas. Bernstein escreveu que "o que se chama fim último do socialismo não é nada, pois o importante é o movimento".
Desde sempre, a ideia de um "mundo novo" tem seduzido os maiores pensadores da história da Humanidade. Da esquerda e extrema-esquerda à direita e extrema-direita, todos concordam que outro mundo é possível. Essa é, porém, a única coincidência porque, no exacto momento em que se começasse a definir ou caracterizar o que se entende por esse "outro mundo", como se alcança, com base em que ideais e pressupostos, com que sacrifícios e objectivos, romper-se-ia o acordo de concertação para a acção.
Em Abrantes, também sucede isso. Concordamos que é possível e desejável mudar mas as coincidências são pouco mais do que essa constatação.
Renego os princípios marxistas porque o sistema capitalista, que carece de aperfeiçoamentos, está longe de caminhar para o seu fim, com Marx e Engels preconizavam, já desde 1848, no seu Manifesto Comunista.
Sei que a história não terminou aí e que o pensamento doutrinário tem evoluído.
Um marco nessa evolução chama-se Keynes, o pai do estado de bem-estar social (wellfare state). Keynes entende que o capitalismo não é capaz de solucionar sozinho os problemas da humanidade e afirma-se contra a lei dos mercados e a economia liberal e, por isso, defende que não sendo inteligente, nem belo, nem justo, nem virtuoso, o capitalismo requer que o Estado intervenha na economia e solucione as crises económicas geradas pelo próprio sistema.
Porém, a história tem-se encarregado de corrigir pensamentos, pela acção, pelo movimento. E com base nos resultados e evidências desse movimento, tem sabido construir novos modelos sociais, novas teorias doutrinárias, novos caminhos programáticos.
Já nem mesmo os defensores do "desenvolvimentismo" dos anos 50, muito praticado na América Latina, se consignam a essa realidade. No Brasil, aquando da eleição de Lula para a presidência, surgiu o conceito de "desenvolvimento por meio de comércio livre", ou seja, mais uma adaptação ao mercado do modelo de desenvolvimento assente na reforma agrária e na instrustialização promovida pelo Estado. A tónica parece ser, mesmo no Brasil, onde lidera um ex-Marxista, a aposta forte na competitividade económica, no aumento das exportações, na diversificação de produtos e mercados, no conceito de valor acrescentado.
Dois séculos depois, os ex-comunistas da vanguarda e que têm a responsabilidade de governar um Estado, renderam-se às teorias de Adam Smith e David Ricardo. Este último já na altura defendia a necessidade do "comércio internacional" e da "melhor distibuição do trabalho, produzindo cada país os bens aos quais, seja pela sua situação, seja pelo clima ou mesmo outras vantagens naturais e artificiais, é adaptado e trocando-os por mercadorias de outros países".
E nós, em Abrantes, quais as nossas competências e as nossas apetências?
É que não chega apostar num modelo que assente, de modo quase obssessivo, na aplicação de receitas de capital em investimentos que não geram produção, não criam emprego sustentável e estruturado, não aumentam a nossa riqueza e a nossa competitividade e não geram outra coisa que não seja despesa corrente, para a qual urge encontrar formas novas de financiar, quase sempre à custa de mais taxas, tarifas e impostos locais.
Claro que me é difícil construir um modelo entendível para todos recorrendo a estas teorias e às suas múltiplas evoluções e metamorfoses ao longo dos tempos. Mas estou atento e leio e estudo. E como páro para pensar e reflectir, decido. Pode ser mal, mas é por bem.
Também por isso tenho dificuldade em ser populista. O populismo é a antítese dos valores que defendo e sobre os quais fui construindo a minha existência. Escolhi ser assim ou é uma fatalidade do destino, que deriva do meu ser e das circunstâncias.
Tal como disse Jean-Paul Sartre, "o homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter". Por isso, cada um tem a sua missão. No entender de Emmanuel Kant, "a missão suprema do homem é saber o que precisa para ser homem".

Certezas

O mistério está, ao que apurei ontem ainda, resolvido.
Ter-se-á tratado de um erro, grosseiro, leviano, inadvertido. A empresa promotora do empreendimento, com sede em Abrantes, terá sido a culpada de inscrever o nome do actual Presidente da Câmara Municipal como titular do alvará.
Não viria mal ao Mundo se fosse, de facto, o promotor deste ou de outro negócio. Só que o processo decisório de aprovação do projecto de arquitectura teria sido irregular, ou melhor, inquinado de ilegalidade, neste caso concreto, se tal fosse verdade e tal como a placa já removida indicava.
Porquê?
Porque o Presidente delega poderes no vereador para poder despachar estes processos e o vereador, ao fazê-lo, está a representar o papel do Presidente, isto é, é o Presidente por interposta pessoa. Não sendo uma competência própria, é uma competência delegada. Assim, qualquer negócio que pudesse envolver a figura do Presidente teria que ser tomada pelo colectivo do órgão Câmara Municipal, sem a presença do interessado. Não poderia ser nunca o representante do Presidente a viabilizar um negócio do Presidente.
Felizmente, nada disso aconteceu.
Uma coisa, porém, parece-me óbvia: a empresa que cometeu este tão lamentável quanto deplorável erro, que afecta a reputação, o bom nome e a honra do visado, deve um pedido formal de desculpas pelo sucedido.
Isso não significa que não tenham os socialistas que explicar muito bem o que está em curso naquele local.
Recordo-me de, algures em meados do ano de 2002, um pedido de viabilidade ou informação prévia ter sido presente à reunião de câmara, para a instalação de uma média superfície na área da bricolage, uma loja tipo Kit-Market ou Mestre Maco. Previa entrada e saída pela Avenida D. João I, o que considerámos, eu o meu colega Salvador, uma má solução, pelo caos potencial que poderia causar no trafego. Sugerimos que a saída se fizesse pela travessa seguinte ou mesmo saindo pela rua que liga Vale de Rãs à Urbanização dos Pinheiros.
Essa sugestão foi bem acolhida e foi-nos dito que seria atendida se e quando o projecto de arquitectura viesse a ser apresentado para aprovação.
De resto, para além da média superfície comercial na área da bricolage, estavam previstos 6 pavilhões/armazéns para empresas grossistas ou de distribuição.
Uma vez que a competência para aprovar o projecto de arquitectura, por delegação de competências do Presidente, está nas mãos de Pina da Costa, resta-me solicitar a apreciação do processo na próxima reunião de câmara e verificar se as premissas acordadas há quase três anos foram ou não cumpridas e analisar os desvios.
Por outro lado, algo nos inquieta neste Mundo.
Depois do Modelo, Feira Nova, Lidl, Intermarché e Bricomarché, está em construção o Plus. E aprovada a instalação do Dia, junto ao cruzamento da Avenida 14 de Junho com a Avenida D. João I, no local onde os circos têm instalado os seus espectáculos.
Para onde caminhamos? O que significa o surgimento de tantas médias superfícies comerciais? O que vai acontecer ao que resta do comércio tradicional da minha terra? Que qualidade de vida terão as pessoas que residem ao longo do eixo da Avenida D. João I e se prolonga pela Avenida António Farinha Pereira, já dentro da freguesia de Alferrarede da nossa cidade? Sete médias superfíces comerciais, quatro ou cinco estações de abastecimento de combustíveis, um quartel dos bombeiros, semáforos, centro comercial, agências bancárias, extensão do centro de saúde, escolas primárias, centros de solidariedade social, etc. Esta alta densidade de serviços, além de alterar a centralidade da cidade, provoca transtornos evidentes na qualidade de vida das pessoas.
De onde virão os consumidores para tanto espaço(?), é outra questão.
Uma questão para um debate sério e a sério sobre planeamento e urbanismo, que urge fazer, independentemente do PUA - Plano de Urbanização de Abrantes e do PDM - Plano Director Municipal, em revisão.
Pedro Marques

terça-feira, janeiro 25, 2005

Dúvidas

Fui ontem alertado para uma situação.
As obras do supermercado Plus, que decorrem na Avenida D. João I, têm como titular do alvará Nelson Augusto Marques de Carvalho, presidente da Câmara Municipal de Abrantes.
Só pode ser engano, pensei e penso ainda.
Se fosse verdade, poderia ser grave.
Para já, quero acreditar que foi um lamentável e grosseiro erro que, acima de tudo, de modo indirecto, nada prestigia a figura do Presidente da Câmara Municipal de Abrantes e que deve responsabilizar quem o cometeu.
Vou esperar pelos próximos dias, para que se possa esclarecer melhor este equívoco e se possam dissipar as minhas dúvidas.
É claro que tenho - todos temos - dúvidas sobre o que este gesto possa significar.
Que sinais nos estão a ser transmitidos?

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Responsabilidade

Estar presente na blogoesfera é uma aventura. Mas é, igualmente, uma enorme responsabilidade.
Há uma enorme diferença entre a palavra dita e a que fica escrita. Se no primeiro caso podemos sempre dizer que falámos sem pensar, já no segundo fica tudo mais difícil de disfarçar e de emendar, em caso de erro grosseiro.
Corro esse risco. Estou consciente. Sinto-me à altura dessa pequena responsabilidade.

No passado Sábado à noite fui a Ourém, ao jantar-comício do PSD. Do ponto de vista da mobilização de massas, a batalha foi ganha. Creio que, com 1700 lugares numa das alas do pavilhão, que estavam completamente preenchidos e mais 1500 lugares na outra ala, menos bem compostos mas ainda assim larguíssimamente preenchidos, se pode apontar para 2900 a 3000 pessoas.
Há uns anos atrás, isso seria impensável no nosso distrito.
Mas não nos deixemos iludir com o afluxo das massas. O sucesso de uma campanha, de um programa e de uma equipa não pode medir-se pela temperatura das salas de comícios, normalmente preenchidas com os indefectíveis deste ou daquele partido. Quem vai a esses jantares são aqueles que já votam no seu partido de eleição. Já estão convencidos e são eleitorado fixo.
Tenho, porém, dúvidas que isso se possa traduzir em apoio popular directo. As orquestrações das massas dos partidos são, sem dúvida alguma, importantes, mais pelo ânimo e pela dinâmica que os líderes conseguem transmitir nesses momentos do que pelo efeito de contágio na generalidade dos eleitores.
Contudo, se aqueles que lá vão virem a sua motivação ficar aumentada com as palavras do líder, com o entusiasmo que este for capaz de transmitir, serão agentes mais activos no passa-palavra e isso pode fazer a diferença.
Uma campanha, seja ela qual for, tem pontos de comunicação muito fortes que devem ser explorados.
Sem dúvida que os outdoors são importantes. O preenchimento das páginas de jornais, de espaço nas rádios e nas televisões também. Os tempos de antena e os debates, concerteza. Creio mesmo que o debate mano-a-mano pode decidir muito do voto indeciso, nestas eleições em concreto.

Sobretudo, o que eu quero realçar é que o líder tem que falar com os eleitores, se possível um-a-um, apertar a mão a 10 milhões de portugueses, falar com as crianças e os idosos, com os empregados e os patrões, o servente e o director. Mas falar mesmo, não é acenar enquanto leva consigo as televisões e as rádios ao lado e, de repente, quando se encontra uma velhinha ou um deficiente, lá vai ele qual falso-piedoso mais interessado no efeito para si do acto de cumprimentar do que no efeito que a sua palavra pode ter no outro e no que o outro pode ter para lhe transmitir.
Em Ourém, vi quase tudo o que acho importante. Um líder em forma, com um discurso contagiante, não obstante a qualidade do som na sala ser mais que deplorável.
Depois, vi um líder levantar-se e percorrer a sala, saudando e cumprimentando os presentes. Um pouco à pressa demais para o meu gosto, mas são as imposições de agenda, bem sei. E, enquanto estava sentado a jantar, vi muitos militantes, ilustres e menos ilustres (do ponto de vista apenas da notoriedade exterior, porque não gosto de separar os militantes do PSD e irrito-me quando alguém fala nos congressos em militantes anónimos. Há alguém que não tenha nome? Anónimo é isso…) abeirarem-se de Pedro Santana Lopes e este dar toda a atenção às palavras de quem o abordava e ter ali uma resposta positiva, de esperança, para retribuir.
Bem sei que os erros se sucedem em ambos os principais partidos que concorrem às eleições legislativas. Às vezes, penso que se trata de um torneio, em que os líderes de PSD e PS vão procurando perder apoios no eleitorado e que, quem menos perder, pode ganhar. Mas não posso acreditar que assim seja. É uma questão de afinação. O maestro tem que ter mais atenção à orquestra e esta aos sinais do maestro.

O que está em cima da mesa para decisão é a opção entre um projecto que, com todos os erros e todas as vicissitudes dos últimos tempos, demonstrou que tem uma ideia global para Portugal e políticas sectoriais de reforma, de acção corajosa, de novo impulso desenvolvimentista, protagonizado pelo PSD e, de outro, um conjunto de pessoas que, há pouco tempo, fizeram do diálogo a única forma de agir, de modo leve, frouxo e pouco determinado, que engordaram o Estado com milhares de novos postos de trabalho públicos, que hipotecaram a capacidade de sobrevivência de muitas famílias e empresas à custa do crescimento económico sustentado no consumo, que tiveram medo de enfrentar grupos corporativos e, por isso, não conseguiram reformar nada. Todo este triste e desolador cenário nos é oferecido por José Sócrates e seus camaradas.
O que está em causa, novamente, é a responsabilidade de que falava no início do texto.
A responsabilidade que o PSD tem, sobre o futuro de Portugal e que o PS, infelizmente, não tem.
Nas horas difíceis, surge o PSD a cortar a direito. Nas horas menos difíceis, surge o PS esbanjador, atento às necessidades de todos e sem impor rigor, disciplina, esforço colectivo. O resultado é normalmente aquele que todos sabemos: o caos, o pântano de que falava António Guterres.
Claro que os eleitores também têm a sua quota-parte de responsabilidade, aquela que poderá ditar, ou não, a vitória de qualquer um dos blocos partidários, mais à direita ou mais à esquerda. Só que as eleições se decidem ao centro, onde um milhão de portugueses faz parte do chamado eleitorado volátil, que vota de acordo com os seus interesses e de quem acha que melhor os pode defender.
A acreditar nas sondagens dos últimos dias, corremos o risco de não haver maioria para nenhum partido isolado.
Assim, PSD entender-se-á, como julgo ser normal e positivo, no quadro actual, com o CDS-PP.
Ao PS não restará outra opção que não seja juntar-se ao Bloco de Esquerda. Por mais que digam o contrário ou que não digam nada e apesar de o CDS ter dado sinais de estar disponível para se entender com o PS. Duvido muito…

Neste cenário, a palavra responsabilidade adquire outros contornos, porque se trata de responsabilidade acrescida. Como explicar isto? É como a diferença que existe entre uma lei e uma lei de valor reforçado, que prevalece sobre as demais fontes de direito.
Assim é com o cenário político actual que se vive em Portugal. No limite, temos que fazer tudo para impedir que o BE possa chegar ao poder. Se essa trágica e remota possibilidade fosse real, o que poderia suceder a Portugal? Para que fim tragicamente premeditado caminharíamos nós? O que sucederia à competitividade da economia, assente num tecido empresarial forte, que começa a demonstrar um impulso exportador e até mesmo investidor noutras partidas do Mundo? Que convulsões viveríamos nos sectores da saúde, da justiça, da defesa, da educação, da administração interna, do ambiente, da cultura, do desporto, da solidariedade social?
Estará o país preparado psicologicamente para a chegada do BE ao poder? Os eleitores saberão distinguir a esquerda folclórica de um conjunto de partidos com sentido de Estado?
Creio que todos os que são possuidores de bom senso têm a resposta negativa pronta.

A melhor forma – a única forma – de não corrermos riscos é votarmos no PSD, que nos garante a continuidade das reformas que já foram iniciadas e que têm sido bem anotadas pela generalidade dos comentadores e analistas nacionais e internacionais.

Mais uma vez, é uma questão de responsabilidade. De todos e cada um de nós. A responsabilidade de evitarmos que esse acidente possa ser real. A responsabilidade de continuarmos a fazer depender de nós e da nossa capacidade de intervenção o futuro de Portugal, para nós e para os que nos hão-de substituir.
Acredito, profundamente, por convicção, que o PSD é o partido que melhor representa os interesses e melhor defende as necessidades de Portugal. Mas respeito que outros concidadãos meus pensem de modo distinto. E ninguém leva a mal que alguns decidam até escolher por mal menor, por exclusão de partes, por razões últimas de impedimento cívico e ético que outros logrem obter sucesso e que o BE possa vir a ser parceiro de Governo, mesmo que isso ainda não tenha sido dito de modo explícito por ninguém e mesmo que não se revejam integralmente nas propostas apresentadas, seja pelo PSD seja pelo PP, nosso parceiro de coligação.

domingo, janeiro 23, 2005

Cheguei à Blogoesfera

Amigas e amigos do concelho de Abrantes,
Decidi aderir à Blogoesfera.
Abrantes vive tempos de indefinição, de encruzilhada, de novo rumo.
Nunca escondi que pretendo ser Presidente da Câmara Municipal de Abrantes. Por isso, concorri há 3 anos atrás. Ao longo de todo este tempo, nunca virei a cara às dificuldades e sempre procurei ter uma postura de oposição séria, determinada, coerente, capaz, corajosa.
Serei novamente candidato e estou convicto que vou - vamos - vencer.
Procurei sempre mostrar as diferenças que me separam e que separam o PSD de Abrantes dos nossos adversários socialistas, pela positiva, pela força das nossas propostas e das nossas ideias, evitando a fulanização e os ataques pessoais.
Sei que vamos ser capazes de demonstrar que estamos em condições de governar o concelho e que merecemos a confiança dos munícipes.
Com determinação e sentido ético, com honestidade e persistência, com uma vasta equipa a apoiar-me e conhecendo o significado da palavra lealdade, rigor, planeamento, vamos conseguir.
Sei - sabemos - para onde caminhar.
Aprendi a combater por ideias e firme aos ideais quero continuar.
Este espaço pretende-se aberto e dinâmico.
Saberei aceitar e respeitar a crítica que surgir, o comentário e a observação divergente.
De igual modo, saberei aceitar propostas, recomendações, sugestões, contributos.
Hoje, fico-me por aqui. Pela apresentação.
Voltarei a ideias e a propostas com regularidade e em breve.
Pedro Marques