Pedro Marques

segunda-feira, março 21, 2005

Superioridade face ao erro

A notícia chega-me pelo blog do António Colaço - Alves Jana tem um blog.
Dei-me ao trabalho de ir ver.
A primeira palavra é: seja benvindo.
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Depois, vem a negação daquilo que não inventei, mas que me chegou por fonte que considero segura e fidedigna, de alguém cuja vida é fazer e passar informação.
No meu post de 19.03.2005, não citei o nome de ninguém. Podem lê-lo aqui mais em baixo. Mas Alves Jana sentiu-se acusado... e negou estar envolvido. Como sempre, acredito na palavra dada.
Nada disso retira o mínimo de sentido à notícia que recebi.
Ninguém iria adquirir um título, à descarada, para o conotar de imediato com um partido político. Há modos mais subtis e mais discretos de fazer essas coisas.
A fonte garantiu-me que a iniciativa voluntarista reuniu, pelo menos, quatro pessoas.
Claro que antevejo que, habilmente, alguns dos homens que se têm movimentado nos bastidores para adquirir o tal produto de comunicação social. Era só o que faltava! Irão acompanhar e procurar ganhar espaço para depois poderem intervir a tempo de fazer notícia e opinião dirigida. Dar a cara seria retirar credibilidade e respeitabilidade ao produto que acabam de adquirir.
Sim, porque o produto jornalístico já mudou de mãos. Depois de ler o escrito de Alves Jana, obtive essa confirmação: O jornal em questão está mesmo vendido.
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Depois, Alves Jana entra por caminhos ínvios e nebulosos, particularmente sinuosos: a insinuação de que um projecto editorial, ao qual estive ligado desde a sua génese e do qual estou a tentar desligar-me desde há cerca de um ano e que, aparentemente, se encaminha para o desfecho que pretendo, está "laranja demais" para seu gosto.
Pela minha parte, desconheço o que Alves Jana quer dizer. Se perguntarem aos militantes do PSD, estes dirão que está "rosa demais". Creio que está como sempre esteve, embora cada líder molde o produto à sua maneira de ser.
Quero que fique bem claro o seguinte: não faço parte da redacção, nem do conselho editorial, não acompanho os fechos de edição, não interfiro no alinhamento das notícias, raramente passo por lá (só quando me pedem expressamente para ir solucionar algum problema) e até já nem a composição gráfica da publicidade - que desde 2002 era a minha principal tarefa - tem sido assumida por mim.
Estou cada vez mais distante e sinto já uma certa saudade.
O jornal a que tenho estado ligado tem um director que, para o bem e para o mal, define o alinhamento de cada edição, distribui tarefas, concebe a manchete, escreve o editorial e dá o destaque que entende aos temas. Ainda há duas semanas fiquei desagradado por ver que um cavalheiro que diz mal de mim sempre que pode, em vários jornais, teve tido direito a mais uma coluna de opinião no jornal, no exacto dia em que o mesmo escrito era tratado como carta dos leitores no Diário de Notícias. Mas a tal coluna de opinião lá saiu, mesmo que isso me tenha causado desagrado. A minha susceptibilidade não importa.
Um jornal, depois de circular, não é propriedade de ninguém, pelo menos na parte editorial. Para mim têm sobrado as "chatices", os problemas. Um jornal local é um produto democrático, do mais democrático que pode haver. Todos podem - em regra e com regras - participar.
Se a situação de Alves Jana se tinha tornado insustentável (como refere, de modo claro) e se, como diz, saíu com "alguma pressão interior", tem o dever e a obrigação moral de se explicar melhor. Não podem subsistir equívocos nesse domínio. Não podemos ficar por insinuações ínvias e insinuosas, a pender para o coitadinho que foi corrido e se sente injustiçado por pensar diferente. Essa não pega... Sobretudo se me pretender envolver a mim. Deveria ter sido igualmente claro nesse ponto. Não foi. Porquê?
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Nunca me apercebi nem tive conhecimento de qualquer tentativa de inibir, diminuir ou reduzir o papel de nenhum dos colunista de "Primeira Linha".
Acho mesmo que Alves Jana fazia falta e fará sempre falta em qualquer projecto editorial em que queira escrever o que pensa, defender as suas causas, bater-se pela defesa das suas convicções, apesar de nem sempre - tantas vezes - concordar com as suas posições e com as suas ideias.
O projecto a que estive ligado deve-lhe muito. O seu contributo voluntário, o calor das discussões que travou com a comunidade, o pensamento que estruturou de modo corajoso, a energia que irradiava sempre dos seus textos tem de ser evidenciada. Era, pelo menos, o seu modo de ver o mundo. O modo como Alves Jana vê o mundo. Concordando ou discordando, tem mérito pela constância, regularidade e qualidade dos textos.
Também estivémos muitas vezes de acordo. Foi ele quem me convidou para a primeira direcção da "Palha de Abrantes", da qual o próprio pediu que me afastasse por volta de 1998/1999, alegando que, sendo eu na altura era dirigente distrital e nacional da JSD, talvez fosse melhor sair da direcção para que esta não fosse conotada com ideais político-partidários.
Sem ruído, saí para uma discreta função no Conselho Fiscal, onde Alves Jana entendeu que eu fazia falta.
No mandato seguinte fui Presidente do Conselho Fiscal, igualmente a pedido de Alves Jana.
A minha saída da direcção, a pedido de Alves Jana, foi na altura interpretada por mim como um acto de pressão empreendido pelo próprio. Nunca o disse, até hoje. Contudo, nesta altura em que ele invoca a pressão que alega ter sentido, achei que deveria dar conhecimento do meu episódio. Para ser absolutamente claro.
A minha opinião nunca foi relevante para escolher ou recusar um colunista. Era só o que faltava.
Nem tampouco direi que, por Alves Jana ser casado com a dirigente concelhia do PS e vereadora em funções Isilda Jana, usou do espaço que foi seu durante todo o tempo que quis para colorir de cor-de-rosa a sua coluna de opinião e tentar forçar quem o lia a sintonizar-se com os ideais socialistas. Isso não seria sério da minha parte.
Às vezes, de modo cirúrgico, ficava expressa a mensagem que queria fazer passar, pelo menos na minha interpretação. Mas é mesmo isso que se espera de quem "faz" ou "pretende fazer" opinião. E isso faz parte da democracia. É essencial que as pessoas se exprimam.
Jamais, enquanto sócio-gerente da empresa editora do jornal e no uso dessas funções ousei sequer exprimir o que pensava sobre os seus escritos. O que afirmo é verdade e ninguém poderá dizer o contrário. Ninguém!
Dizer que "Primeira Linha" é um boletim pró-PSD é uma ofensa para todos aqueles que, semana após semana, com notícias, textos de opinião, nas funções administrativas e comerciais, se esforçam para que, com dificuldades, o jornal continue a ser editado. Considero isso como um infeliz desabafo, um estado de alma ou a "espuma dos dias". Nada mais. Infeliz, contudo, porque infundado.
Mesmo quando os cortes de publicidade - e disso sei! - que antes era sistemática e contínua se começaram a evidenciar, curiosamente no ano de 2001, me queixei. E um jornal vive, sobretudo, de receitas de publicidade. Provenientes de particulares, empresas e instituições, privadas e públicas. Sei bem o que é viver à míngua de publicidade por razões de "superior interesse".
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Depois, Alves Jana diz que saiu de colunista, "não por ali se estar a criticar a Câmara". Afinal, não foi por isso.
Fiquei mais esclarecido quando li a frase, afinal insinuosa e insultuosa, onde afirma que saíu, afinal, "por se estar a fazer «outra coisa» e eu, ao mesmo tempo, não poder responder e não poder ficar calado".
Esta parte é particularmente acintosa e grave. A que «outra coisa» se refere? Não explica? Não! Prefere ficar pela insinuação, truque useiro e veseiro usando sempre que se pretender criar uma cortina de fumo e deixar aos leitores a interpretação e a continuação do que ficou por dizer.
O que ainda conseguiu dizer, no mesmo tom de insinuação de quem não foi capaz de dizer o que, afinal, pensava, foi que "eu pensava, e continuo a pensar, que não podia nem devia entrar nessa matéria". Mas, afinal, qual é a matéria?
O que quer fazer percebe-se: insinuar. O que quer dizer fica na leitura subliminar de cada um. Nunca se sabe quando é que um, mais incauto, cai na armadilha que pretende armar...
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Alves Jana é um homem que considero - sempre considerei - inteligente.
Só isso explica que, por exemplo, o jantar com empresários do PSD e, mais do que isso, a questão da sedução em que a sua mulher teve papel activo (enquanto líder concelhia do PS), feita ao Presidente da Junta de Freguesia de Fontes tenham passado sem referência nenhuma no programa em que participa aos Domingos (mesmo que gravado ao Sábado) numa rádio.
Um autêntico "branqueamento", mesmo que a grelha de assuntos lhe tenha sido proposta. Não sei se foi ou não porque não sei quem escolhe os assuntos a discutir. É irrelevante para mim.
Para mim, Alves Jana deveria ter dito, em qualquer dos cenários, que esses temas, principalmente o da abjecta coacção psicológica sobre um autarca em funções eleito por outro partido e seduzido à custa da aplicação de dinheiro público por especial favor (não obstante ser um dever de quem governa) era por demais importante para não ser, de modo sério e isento, discutida.
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Isso conduz-me a outra reflexão, em nome dos valores da isenção e da igualdade.
Não ficava mal que, nesta altura, em ano de eleições, suspendesse a sua participação nesse tipo de programas onde tem de opinar. Aproveite o "corte" que fez num produto específico e fala uma pausa, pelo menos até às eleições.
"À mulher de César não basta ser séria; é preciso parecê-lo". Ao marido de uma política em funções, recandidata (será!) deve aplicar-se a mesmo norma popular.
Claro que isso não tem de acontecer. É apenas uma leitura que considero poder ser feita.
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Nada do que acima disse diminui o respeito e a deferência que tenho para com Alves Jana. Acho até bem agradável este pequeno despique. Continuarei a saudá-lo de modo cordial, como sempre fiz.
De resto, tal como diz no seu post inicial, creio ser (eu) inteligentemente "superior ao erro". O que "não diminui a sua dele responsabilidade" de procurar acertar (ele). Foi o próprio que escreveu estas palavras no seu primeiro post. Pelos vistos, de modo premonitório.
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Só lamento não poder (ainda) debater com os meus verdadeiros adversários, por esta via.
Por mais que falem em "Choque Tecnológico", "Estratégia de Lisboa", "Sociedade do Conhecimento" e "Qualificação dos Recursos Humanos", o discurso poético que proferem está longe de ser uma realidade que conhecem e praticam.
Tal como o cenário que pintam sobre a cidade e o concelho. Uma coisa é o que dizem, outra o que toda a gente pode ver, pesquisar, ler e concluir.
Espero não ter de voltar ao assunto.