Pedro Marques

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Dar de nós!

Dois dias após as eleições, é tempo de, com mais serenidade, olhar para o futuro.
A esta mesma hora, a Comissão Permanente do PSD está reunida na S. Caetano à Lapa. Logo após, reúne-se a Comissão Política.
Pode ser que o bom senso impere ainda.
É chegada a hora de agirmos, em vez de reagirmos.
Como ontem disse, o próximo Congresso do PSD tem de ser electivo. Se as cúpulas quiserem decidir que será apenas para discutir tricas internas, devemos fazer um esforço de recolha de assinaturas, verdadeiramente nacional, para que seja incluído na Ordem de Trabalhos um ponto para eleição dos órgãos nacionais. O PSD é nosso, de todos os militantes e somos nós, em conjunto, quem manda. Alguém tem dúvidas? Eu não!
No dia 20, anunciou-se um fim de ciclo. Alguns companheiros do meu partido entenderam afastar-se, dando o lugar a outros. Imperou aí o bom senso. Mas há quem pense que ainda pode ficar agarrado à máquina do poder interno, uma máquina eivada de vícios e truques, uma máquina que projecta mal as ideias do partido para o exterior, uma máquina que não se preocupa em alargar bases de apoio, uma máquina eficiente nã eliminação de quaisquer interferências, mesmo saudáveis, alheias à vontade do Rei e dos Cortesãos. Uma máquina que, para o exterior, para onde tem que valer, não vale ou vale pouco mais que nada.
Alguns dirigentes nacionais que conheço fazem-me lembrar os eucaliptos na floresta. Nascem frágeis e ondulantes ao vento. Foram protegidos e amparados para poderem crescer sem doenças. Alguns eucaliptos desses são abatidos pelo caminho, para transformação industrial. Porém, por vezes, alguns conseguem ganhar raízes fortes e fundas e aí é um tremendo problema, porque as raízes escondidas no sub-solo são cada vez mais largas e longínquas e o eucalipto começa a secar toda a floresta em redor. Há casos em que nem a vegetação rasteira se consegue dar bem ao seu lado.
Essa é a fase mais difícil, mas também a mais apetitosa. É que o eucalipto subiu muito alto, tem ramos frondosos, raízes demasiado grandes escondidas naqueles locais onde a vista não alcança, um corpo viçoso e forte. Vê-se que respira saúde e que está bem com a vida. Não consegue deixar de ser visto, apreciado a até invejado. Nada a objectar, é próprio da natureza dos eucaliptos.
Mas, então, e o resto da floresta, tem mesmo de secar só para que aquele eucalipto sobressaia?
O que fez ele para merecer estar assim? Trabalhou alguma vez na vida? Estudou? Pensou? Qual a sua carreira? Perguntas de retórica...
Não! Limitou-se a existir e foi-se aproveitando da menor força ou até da menor concentração das espécies em seu redor. A seu lado, as outras espécies estavam de boa fé, não pensando que teriam que tombar para que o eucalipto continuasse a crescer.
A dada altura, o seu porte é excessivo. E, para salvar a floresta e proporcionar a reflorestação, o eucalipto tem de ser abatido. E, com pena até, temos de escavar bem fundo, para nos certificarmos de que as suas raízes são igualmente removidas ou liquidadas. Bem sei que custa, mas é a escolha entre a floresta ou a árvore.
Fui até à mata tentar compreender este meu raciocínio. E consegui encontrar-me em sintonia com as árvores com quem conversei. Naquele local puro, no concelho de Sardoal, lugar da Venda, ainda há árvores puras, que desconhecem que, noutros locais, há árvores que, mesmo não lhes querendo mal, se puderem não negam poder fazê-las secar para poderem crescer. São inocentes e não querem entrar no esquema do "jogo da selva".
Verifiquei que ali as árvores crescem todas ao mesmo tempo. Umas são mais altas, outras mais esguias, outras mais corpulentas e outras ainda mais largas, mas todas se respeitam e sabem conservar a distância entre si, vendo-se crescer mutuamente. O seu perigo é o fogo mas, entre si, respeitam-se, toleram-se e entreajudam-se.
Mas o fogo, esse elemento devastador, elas não controlam. Esse é fruto da acção do Homem, algo que elas podem considerar agente agressor da natureza. Se ao menos pudessem fugir...
Aqui estou eu, estático, ao lado das árvores. Mas posso sempre mover-me se precisar. As árvores não.

É tempo de agir! É tempo de darmos de nós. Porque eu acredito que é possível mudarmos de atitude e de postura, enquanto partido de poder. Respeitando os outros, preocupados com a vida dos outros, com o seu bem-estar, com a sua felicidade.
Com a competitividade das pessoas, das organizações e das pessoas. Com o seu desenvolvimento pessoal e social, numa base de reforço de competências de cidadania, transversais à comunidade. Conferindo novas competências e novas ferramentas de desempenho aos cidadãos, apostando na motivação, no talento, na mensagem de que a excelência é um caminho e pode ser um objectivo.
Chega de arrogância, de soberba e de novo-riquismo na política feita pelo PSD. Podemos ser mais autênticos e mais humanos. Tolerando a existência e a opinião dos outros, aceitando a crítica frontal, ainda que adversa, acolhendo os que são diferentes de nós mas querem juntar-se para ajudarem a construir.
É tempo de nos sentirmos inquietos e essa mesma inquietude nos conduzir para estados da libertação da alma e de estímulo à acção construtiva, mais do que para sentimentos depressivos e de angústia.
Ninguém fará por nós aquilo que só nós temos de fazer. Vamos a isso! Vamos dar de nós!

1 Comments:

  • At 3:12 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    É verdade, o fogo as árvores não controlam, mas também o fogo pode-se iniciar por causas naturais, ou ser posto pela mão do Homem, no caso em apreço, com não vejo sinais de fogo no horizonte, e, a bem da floresta o eucalipto terá de desaparecer, resta saber quem será o incendiário...

     

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