Vitalidade partidária
Afinal, descobri ontem que o PS existe em Abrantes.
Depois de eu e o meu companheiro João Miguel Salvador termos efectuado uma declaração de voto explicitando porque razão não poderíamos votar a favor de uma alteração ao plano plurianual de investimentos e orçamento para 2005, bem como ao lançamento do concurso público para a construção de um campo de basebol em Abrantes, o PS, ao cabo de 3 anos de coma profundo e de um silêncio ensurdecedor, surgiu com um comunicado político.
Está bem, fizeram uma conferência de imprensa há uns dois meses, mas a capacidade de intervenção tem estado sempre por conta do autarca Nelson Carvalho.
O que quer dizer esta separação entre PS-partido e PS-presidente da Câmara?
Que sinais nos querem transmitir?
Não importa muito. Importam mais as ideias, as razões pelas quais os eleitos pelo PSD assumiram a posição que assumiram. É isso que queremos explicar aos nossos munícipes.
O PSD não votou contra um equipamento desportivo. Votou a favor do conceito de desenvolvimento sustentável, que assenta em três dimensões: económica, social e ambiental.
Votámos a favor da intensificação da vertente energética, de apoio às energias renováveis.
Para nós, preterir uma aposta como é o Projecto «Biogás/Verca», inserido na lógica da aposta nas energias renováveis e no respeito pelo conceito de Desenvolvimento Sustentável, tal como proferido em 1994 no Relatório Bruntland e várias vezes sublinhado por consecutivas cimeiras europeias, para além de se tratar de um caminho que deveria ser inequivocamente percorrido e que até a “ENDS – Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável 2005-2015” defende, por troca com a construção de um campo de basebol, gerador de mais despesa corrente e numa modalidade sem tradição e sem praticante no concelho, é um absurdo político e um erro crasso.
Discutimos ideias. Achamos errado este caminho e este modelo, não temos receio de o dizer e assinar por baixo. Nada nos move contra ninguém, contra a personalidade e a vida individual dos nossos adversários.
O que importa é encontrar caminhos, definir metas, escolher medidas, contrapor com programas, formatados pela doutrina programática dos espaços em que cada um age e interage com a comunidade mas, sempre, com a noção de existirmos para servir e criar condições de futuro para quem nos propomos servir e defender.
Ao contrário, o PS de Abrantes, no seu comunidado, parece apostar na "fuga para a frente". Por isso, o seu comunicado termina com o seu tradicional apelo a que o concelho mereça "uma oposição melhor, mais responsável e mais esclarecida".
Nada acrescenta ao debate, nesta parte. A oposição agradece os mimos mas, uma vez mais, recusa-se a responder à letra, a descer o nível do debate.
Nunca nos foi solicitada qualquer intervenção no processo Verca. Tal como noutros assuntos, como o recente Centro Tecnológico Agroalimentar, nada nos foi dito. Surgiram convites, houve uma apresentação, se calhar compromissos assumidos mas ninguém nos convidou a estar presentes e a contribuir com ideias e sugestões.Tem sido sempre assim: sectarismo, jacobinismo, segregação dos oponentes só porque não são do mesmo partido. Apesar de todos sermos de Abrantes e de todos querermos - pelo menos eu quero e o meu partido também, de modo inequívoco - o melhor para Abrantes. O melhor não é propriedade de ninguém: é, outrossim, o resultado da escolha popular efectuada sobre modelos de desenvolvimento distintos, apresentados por partidos, todos igualmente legítimos e actuantes sobre a comunidade.
No PSD, gostamos individual (cada um de per si) e colectivamente (todos juntos, enquanto grupo organizado que comunga de afinidades políticas, ideológicas, doutrinárias e até de estilos de vida e afinidades pessoais) de nós próprios o suficiente para nos sentirmos confiantes e preparados. Os eleitores é que terão que pronunciar-se sobre a nossa capacidade. Fica mal a um partido que se afirma de regime, de sistema democrático, arvorar-se no direito de pensar que é único e que do seu ventre são paridas as únicas ideias boas. Os partidos que se sentem únicos e os dirigentes que assim pensam, mesmo sem o afirmarem e para além de se tornarem uns valentes chatos monolíticos e cinzentistas, traduzem uma cultura pouco tolerante à diferença de opiniões e pouco, muito pouco democrática. Essas posições de "nós, os iluminados" em contraponto aos "outros, os atrasados" costuma evidenciar laivos de autoritarismo e de arrogância que os eleitoes fazem questão de sopesar no momento da decisão.
Por isso, podem persistir nessa estratégia, achando eu, pessoalmente, que se trata de um erro. Mas tudo bem, afinal todos os seres humanos têm direito a errar e a enganar-se.
Nós, por cá, iremos continuar a privilegiar o debate e a visão de modelos distintos e alternativos de chegarmos ao objectivo maior que é o do crescimento económico sustentado, no aumento da importância de Abrantes pelo seu percurso, pelos seus factores positivos, pela energia das suas gentes, conduzidas de modo diverso do que tem sido feito nos últimos anos, olhando mais para o que faz, de facto, falta em contraponto ao que tende a sobrelevar o efémero e o fogo de artifício eleitoral mas não contribui realmente para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Não há almoços grátis, dizem-me. Pois não. No fundo, alguém tem de pagar e se a economia (mesmo a local) não produz mais riqueza ou se não há mais gente na economia e se os custos forem fixos ou crescentes (como tem sucedido com a gestão do PS), cada vez menos gente tem de pagar uma factura cada vez mais elevada para sustentar as despesas geradas com o modelo errado que tem vindo a ser implementado pelo PS. Parece simples e linear? É mesmo assim: simples e linear.
Dar peixe ou ensinar a pescar? Seguramente, a segunda via é sempre preferível.
NOTA: António, aguardo a tua resposta para podermos ir à tréplica e por aí fora. Bute lá...
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