Pedro Marques

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Responsabilidade

Estar presente na blogoesfera é uma aventura. Mas é, igualmente, uma enorme responsabilidade.
Há uma enorme diferença entre a palavra dita e a que fica escrita. Se no primeiro caso podemos sempre dizer que falámos sem pensar, já no segundo fica tudo mais difícil de disfarçar e de emendar, em caso de erro grosseiro.
Corro esse risco. Estou consciente. Sinto-me à altura dessa pequena responsabilidade.

No passado Sábado à noite fui a Ourém, ao jantar-comício do PSD. Do ponto de vista da mobilização de massas, a batalha foi ganha. Creio que, com 1700 lugares numa das alas do pavilhão, que estavam completamente preenchidos e mais 1500 lugares na outra ala, menos bem compostos mas ainda assim larguíssimamente preenchidos, se pode apontar para 2900 a 3000 pessoas.
Há uns anos atrás, isso seria impensável no nosso distrito.
Mas não nos deixemos iludir com o afluxo das massas. O sucesso de uma campanha, de um programa e de uma equipa não pode medir-se pela temperatura das salas de comícios, normalmente preenchidas com os indefectíveis deste ou daquele partido. Quem vai a esses jantares são aqueles que já votam no seu partido de eleição. Já estão convencidos e são eleitorado fixo.
Tenho, porém, dúvidas que isso se possa traduzir em apoio popular directo. As orquestrações das massas dos partidos são, sem dúvida alguma, importantes, mais pelo ânimo e pela dinâmica que os líderes conseguem transmitir nesses momentos do que pelo efeito de contágio na generalidade dos eleitores.
Contudo, se aqueles que lá vão virem a sua motivação ficar aumentada com as palavras do líder, com o entusiasmo que este for capaz de transmitir, serão agentes mais activos no passa-palavra e isso pode fazer a diferença.
Uma campanha, seja ela qual for, tem pontos de comunicação muito fortes que devem ser explorados.
Sem dúvida que os outdoors são importantes. O preenchimento das páginas de jornais, de espaço nas rádios e nas televisões também. Os tempos de antena e os debates, concerteza. Creio mesmo que o debate mano-a-mano pode decidir muito do voto indeciso, nestas eleições em concreto.

Sobretudo, o que eu quero realçar é que o líder tem que falar com os eleitores, se possível um-a-um, apertar a mão a 10 milhões de portugueses, falar com as crianças e os idosos, com os empregados e os patrões, o servente e o director. Mas falar mesmo, não é acenar enquanto leva consigo as televisões e as rádios ao lado e, de repente, quando se encontra uma velhinha ou um deficiente, lá vai ele qual falso-piedoso mais interessado no efeito para si do acto de cumprimentar do que no efeito que a sua palavra pode ter no outro e no que o outro pode ter para lhe transmitir.
Em Ourém, vi quase tudo o que acho importante. Um líder em forma, com um discurso contagiante, não obstante a qualidade do som na sala ser mais que deplorável.
Depois, vi um líder levantar-se e percorrer a sala, saudando e cumprimentando os presentes. Um pouco à pressa demais para o meu gosto, mas são as imposições de agenda, bem sei. E, enquanto estava sentado a jantar, vi muitos militantes, ilustres e menos ilustres (do ponto de vista apenas da notoriedade exterior, porque não gosto de separar os militantes do PSD e irrito-me quando alguém fala nos congressos em militantes anónimos. Há alguém que não tenha nome? Anónimo é isso…) abeirarem-se de Pedro Santana Lopes e este dar toda a atenção às palavras de quem o abordava e ter ali uma resposta positiva, de esperança, para retribuir.
Bem sei que os erros se sucedem em ambos os principais partidos que concorrem às eleições legislativas. Às vezes, penso que se trata de um torneio, em que os líderes de PSD e PS vão procurando perder apoios no eleitorado e que, quem menos perder, pode ganhar. Mas não posso acreditar que assim seja. É uma questão de afinação. O maestro tem que ter mais atenção à orquestra e esta aos sinais do maestro.

O que está em cima da mesa para decisão é a opção entre um projecto que, com todos os erros e todas as vicissitudes dos últimos tempos, demonstrou que tem uma ideia global para Portugal e políticas sectoriais de reforma, de acção corajosa, de novo impulso desenvolvimentista, protagonizado pelo PSD e, de outro, um conjunto de pessoas que, há pouco tempo, fizeram do diálogo a única forma de agir, de modo leve, frouxo e pouco determinado, que engordaram o Estado com milhares de novos postos de trabalho públicos, que hipotecaram a capacidade de sobrevivência de muitas famílias e empresas à custa do crescimento económico sustentado no consumo, que tiveram medo de enfrentar grupos corporativos e, por isso, não conseguiram reformar nada. Todo este triste e desolador cenário nos é oferecido por José Sócrates e seus camaradas.
O que está em causa, novamente, é a responsabilidade de que falava no início do texto.
A responsabilidade que o PSD tem, sobre o futuro de Portugal e que o PS, infelizmente, não tem.
Nas horas difíceis, surge o PSD a cortar a direito. Nas horas menos difíceis, surge o PS esbanjador, atento às necessidades de todos e sem impor rigor, disciplina, esforço colectivo. O resultado é normalmente aquele que todos sabemos: o caos, o pântano de que falava António Guterres.
Claro que os eleitores também têm a sua quota-parte de responsabilidade, aquela que poderá ditar, ou não, a vitória de qualquer um dos blocos partidários, mais à direita ou mais à esquerda. Só que as eleições se decidem ao centro, onde um milhão de portugueses faz parte do chamado eleitorado volátil, que vota de acordo com os seus interesses e de quem acha que melhor os pode defender.
A acreditar nas sondagens dos últimos dias, corremos o risco de não haver maioria para nenhum partido isolado.
Assim, PSD entender-se-á, como julgo ser normal e positivo, no quadro actual, com o CDS-PP.
Ao PS não restará outra opção que não seja juntar-se ao Bloco de Esquerda. Por mais que digam o contrário ou que não digam nada e apesar de o CDS ter dado sinais de estar disponível para se entender com o PS. Duvido muito…

Neste cenário, a palavra responsabilidade adquire outros contornos, porque se trata de responsabilidade acrescida. Como explicar isto? É como a diferença que existe entre uma lei e uma lei de valor reforçado, que prevalece sobre as demais fontes de direito.
Assim é com o cenário político actual que se vive em Portugal. No limite, temos que fazer tudo para impedir que o BE possa chegar ao poder. Se essa trágica e remota possibilidade fosse real, o que poderia suceder a Portugal? Para que fim tragicamente premeditado caminharíamos nós? O que sucederia à competitividade da economia, assente num tecido empresarial forte, que começa a demonstrar um impulso exportador e até mesmo investidor noutras partidas do Mundo? Que convulsões viveríamos nos sectores da saúde, da justiça, da defesa, da educação, da administração interna, do ambiente, da cultura, do desporto, da solidariedade social?
Estará o país preparado psicologicamente para a chegada do BE ao poder? Os eleitores saberão distinguir a esquerda folclórica de um conjunto de partidos com sentido de Estado?
Creio que todos os que são possuidores de bom senso têm a resposta negativa pronta.

A melhor forma – a única forma – de não corrermos riscos é votarmos no PSD, que nos garante a continuidade das reformas que já foram iniciadas e que têm sido bem anotadas pela generalidade dos comentadores e analistas nacionais e internacionais.

Mais uma vez, é uma questão de responsabilidade. De todos e cada um de nós. A responsabilidade de evitarmos que esse acidente possa ser real. A responsabilidade de continuarmos a fazer depender de nós e da nossa capacidade de intervenção o futuro de Portugal, para nós e para os que nos hão-de substituir.
Acredito, profundamente, por convicção, que o PSD é o partido que melhor representa os interesses e melhor defende as necessidades de Portugal. Mas respeito que outros concidadãos meus pensem de modo distinto. E ninguém leva a mal que alguns decidam até escolher por mal menor, por exclusão de partes, por razões últimas de impedimento cívico e ético que outros logrem obter sucesso e que o BE possa vir a ser parceiro de Governo, mesmo que isso ainda não tenha sido dito de modo explícito por ninguém e mesmo que não se revejam integralmente nas propostas apresentadas, seja pelo PSD seja pelo PP, nosso parceiro de coligação.