Combate ao populismo
No anterior texto escrevi – como sempre faço – discorrendo naturalmente sem me fixar a um único tema.
Olho hoje para o texto e o que mais ressalta é que acaba por surgir uma ideia central de combate ao populismo.
Parece-me bem. Não me envergonho do escrito.
Este exercício de escrever sobre o pensamento político contemporâneo não é um exclusivo dos pensadores, mas também dos responsáveis políticos.
É um exercício arriscado, que toca nas fronteiras da teoria política (onde possuo handicap formativo), a ciência política (de que não sou especialista mas apenas um curioso), a filosofia política (essa é mais a área dos meus adversários), sobretudo porque há sempre contributos inigualáveis da chamada filosofia do direito e também não sou advogado.
Não sou de ciências exactas mas antes de um ramo mais tecnocrático das ciências sociais. Venho da área de gestão, com especialização económico-financeira. Gosto porém, como já disse, de estudar e conhecer, pensar e reflectir, para poder decidir.
Sei que ainda tenho muito que ler, que estudar, que conhecer. Mas cá vou andando, ao ritmo que posso e que as circunstâncias permitem.
Se quiserem, ao escrever estas palavras e consciente dos riscos que corro, acabo por fazer parte do grupo dos que aderiram à “teoria política normativa”, ou seja, a teoria política que se preocupa com a reflexão sobre os valores. Não sei se algum dia terei talento ou dimensão para contribuir com novas reflexões, empiricamente sustentadas, para este mundo vasto do conhecimento e do pensamento em geral. Muito provavelmente, não.
Mas sei que há alternativos campos de estudos, sobre o pensamento e sobre os discursos ou retórica política. Qualquer um dos dois me fascina. Há ainda um outro campo, mais dirigido à ordem internacional, sobre o qual tenho lido menos e que consome menos tempo às minhas leituras, confesso. Tenho que ler, no futuro, mais sobre o assunto, talvez começando com Habermas e com a sua Ética das Relações Internacionais. Dentro dos contemporâneos, claro.
Mas, lá está: volto sempre aos valores, à doutrina, ao pensamento e ao conhecimento.
Como forma de sustentar a prática e a teoria política normativa de que preciso, de que me socorro para pensar o futuro do meu concelho e da região a que pertenço.
É urgente afirmarmos todos a necessidade de aprofundarmos o nosso conhecimento, sobretudo numa época marcada pela incerteza, pela crise de valores, pelo populismo e também pelo niilismo.
No niilismo, como disse Nietzsche, “os valores mais altos perdem o seu valor”, mas também nos disse que, marcados pelo niilismo, as sociedades perdem o “objectivo e perdemos as nossas próprias bases”.
Não podemos continuar no vazio, na negação, na ausência de tudo.
Importa, pois, regressar aos valores, uma questão que tem estado muito na agenda mediática mas que levou já, em 1946, Albert Camus a questionar-se dizendo: “Não concordam que somos todos responsáveis pela ausência de valores?”. Durão Barroso lembrou estas palavras, tão avisadas quanto sábias, há dias atrás aquando da apresentação do livro “Pensamento Político Contemporâneo”, de João Carlos Espada e João Cardoso Rosas, numa intervenção proferida no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa.
Os valores são, assim, fundamentais. Só sustentados em valores – positivos ou negativos – poderemos ter a noção do que deve ser feito, do caminho que temos que percorrer ou evitar percorrer.
O populismo é uma ameaça aos valores. Hoje em dia, voltando a Durão Barroso, o populismo exprime-se “em três nãos, dois no plano interno, um no plano externo: o não à imigração, o não à Europa, ou à União Europeia e também o não à globalização”. Se os dois primeiros se podem atribuir mais à direita, o terceiro não deixa de ser uma forma de populismo, só que à esquerda. O populismo não é, desse modo, património exclusivo da direita ou da esquerda. Infelizmente, grassa de uma ponta à outra do espectro ideológico.
O que há de comum no populismo, seja no plano internacional, no plano nacional ou mesmo no plano local? Uma das características que marcam o populismo reside na sobre-simplificação dos problemas. Outra, na exploração das ansiedades e medos das pessoas, na manipulação em função dos tais valores positivos ou negativos, tudo dependendo da perspectiva em que se pretende conduzir a intervenção. Outra característica do populismo reside na exploração da sociedade de massas, nomeadamente os media. Já Popper referia que as televisões, por vezes, “podem ser inimigas da democracia”, do aprofundamento do conhecimento e do pensamento, da investigação, da reflexão, do estudo, justamente porque nivelam a sua programação por baixo e puxam para baixo o nível da sociedade.
Sem dramas, nem soberba, nem arrivismos, importa saber se as elites intelectuais e políticas estarão à altura deste desafio de, positivamente, combaterem o populismo e o niilismo através da introdução do rigor, da verdade, do respeito pela condição da pessoa humana, da recusa à venda de ilusões, da fuga à maquilhagem dos episódios políticos que enformam a nossa sociedade, do efémero em prejuízo do perene.
“Como é que alguém pode ganhar eleições recusando-se a ser populista?”, pergunta o meu outro eu. Ou, socorrendo-me de uma questão que igualmente apoquentou Durão Barroso, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Armando Fernandes (um grande mestre) e outros companheiros do meu partido antes de mim, “será possível ser popular sem ser populista?”.
Questão complexa, de resposta difícil, anoto de imediato. A fronteira entre popular e populismo, em política, é ténue, muito ténue. A deriva populista é uma falácia mas quase sempre uma inevitabilidade para quem pretende ser popular. Requer um elevado espírito de concentração e disciplina mental. Mas sem se ser popular não se asseguram vitórias eleitorais.
Onde encontrar conforto? Para mim, na revisitação permanente dos clássicos, que não me foram ensinados nem dados a conhecer na minha juventude com a profundidade que hoje reconheço fazer-me falta mas que comecei a estudar com cada vez mais interesse. Olho para esses grandes criadores do pensamento, da teoria política, da ciência política, da filosofia política e da filosofia do direito com enorme respeito. Vejo neles uma elite, de Homens que quase sempre conseguiram ser imortais porque resistiram à massificação, à trivialização, porque não contribuíram para nivelar por baixo a sociedade do seu tempo.
Que enorme diferença para os dias de hoje, constato com tristeza.
Por isso, procuro fazer um exercício sério de busca interior, de trabalho pela qualidade, inserida numa sociedade aberta, plural, democrática, tolerante e humanista. Numa sociedade que tenha capacidade de regeneração e que, sem revoluções ou rudes golpes de sistema, consiga trilhar um caminho, o novo mundo de que falava no anterior texto e que (ainda) acredito ser possível alcançar durante o período da minha vida.
Para isso, tenho que ser capaz de explicar o que me separa do modelo jacobino que o PS tem vindo a desenvolver neste concelho. Por palavras simples e explicadas, demonstrar que o nosso Robespierre local não pode continuar nem passar o testemunho como se de uma oligarquia se tratasse e nela vivêssemos de modo consciente e voluntariamente desejado.Penso que vou ser capaz.
Olho hoje para o texto e o que mais ressalta é que acaba por surgir uma ideia central de combate ao populismo.
Parece-me bem. Não me envergonho do escrito.
Este exercício de escrever sobre o pensamento político contemporâneo não é um exclusivo dos pensadores, mas também dos responsáveis políticos.
É um exercício arriscado, que toca nas fronteiras da teoria política (onde possuo handicap formativo), a ciência política (de que não sou especialista mas apenas um curioso), a filosofia política (essa é mais a área dos meus adversários), sobretudo porque há sempre contributos inigualáveis da chamada filosofia do direito e também não sou advogado.
Não sou de ciências exactas mas antes de um ramo mais tecnocrático das ciências sociais. Venho da área de gestão, com especialização económico-financeira. Gosto porém, como já disse, de estudar e conhecer, pensar e reflectir, para poder decidir.
Sei que ainda tenho muito que ler, que estudar, que conhecer. Mas cá vou andando, ao ritmo que posso e que as circunstâncias permitem.
Se quiserem, ao escrever estas palavras e consciente dos riscos que corro, acabo por fazer parte do grupo dos que aderiram à “teoria política normativa”, ou seja, a teoria política que se preocupa com a reflexão sobre os valores. Não sei se algum dia terei talento ou dimensão para contribuir com novas reflexões, empiricamente sustentadas, para este mundo vasto do conhecimento e do pensamento em geral. Muito provavelmente, não.
Mas sei que há alternativos campos de estudos, sobre o pensamento e sobre os discursos ou retórica política. Qualquer um dos dois me fascina. Há ainda um outro campo, mais dirigido à ordem internacional, sobre o qual tenho lido menos e que consome menos tempo às minhas leituras, confesso. Tenho que ler, no futuro, mais sobre o assunto, talvez começando com Habermas e com a sua Ética das Relações Internacionais. Dentro dos contemporâneos, claro.
Mas, lá está: volto sempre aos valores, à doutrina, ao pensamento e ao conhecimento.
Como forma de sustentar a prática e a teoria política normativa de que preciso, de que me socorro para pensar o futuro do meu concelho e da região a que pertenço.
É urgente afirmarmos todos a necessidade de aprofundarmos o nosso conhecimento, sobretudo numa época marcada pela incerteza, pela crise de valores, pelo populismo e também pelo niilismo.
No niilismo, como disse Nietzsche, “os valores mais altos perdem o seu valor”, mas também nos disse que, marcados pelo niilismo, as sociedades perdem o “objectivo e perdemos as nossas próprias bases”.
Não podemos continuar no vazio, na negação, na ausência de tudo.
Importa, pois, regressar aos valores, uma questão que tem estado muito na agenda mediática mas que levou já, em 1946, Albert Camus a questionar-se dizendo: “Não concordam que somos todos responsáveis pela ausência de valores?”. Durão Barroso lembrou estas palavras, tão avisadas quanto sábias, há dias atrás aquando da apresentação do livro “Pensamento Político Contemporâneo”, de João Carlos Espada e João Cardoso Rosas, numa intervenção proferida no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa.
Os valores são, assim, fundamentais. Só sustentados em valores – positivos ou negativos – poderemos ter a noção do que deve ser feito, do caminho que temos que percorrer ou evitar percorrer.
O populismo é uma ameaça aos valores. Hoje em dia, voltando a Durão Barroso, o populismo exprime-se “em três nãos, dois no plano interno, um no plano externo: o não à imigração, o não à Europa, ou à União Europeia e também o não à globalização”. Se os dois primeiros se podem atribuir mais à direita, o terceiro não deixa de ser uma forma de populismo, só que à esquerda. O populismo não é, desse modo, património exclusivo da direita ou da esquerda. Infelizmente, grassa de uma ponta à outra do espectro ideológico.
O que há de comum no populismo, seja no plano internacional, no plano nacional ou mesmo no plano local? Uma das características que marcam o populismo reside na sobre-simplificação dos problemas. Outra, na exploração das ansiedades e medos das pessoas, na manipulação em função dos tais valores positivos ou negativos, tudo dependendo da perspectiva em que se pretende conduzir a intervenção. Outra característica do populismo reside na exploração da sociedade de massas, nomeadamente os media. Já Popper referia que as televisões, por vezes, “podem ser inimigas da democracia”, do aprofundamento do conhecimento e do pensamento, da investigação, da reflexão, do estudo, justamente porque nivelam a sua programação por baixo e puxam para baixo o nível da sociedade.
Sem dramas, nem soberba, nem arrivismos, importa saber se as elites intelectuais e políticas estarão à altura deste desafio de, positivamente, combaterem o populismo e o niilismo através da introdução do rigor, da verdade, do respeito pela condição da pessoa humana, da recusa à venda de ilusões, da fuga à maquilhagem dos episódios políticos que enformam a nossa sociedade, do efémero em prejuízo do perene.
“Como é que alguém pode ganhar eleições recusando-se a ser populista?”, pergunta o meu outro eu. Ou, socorrendo-me de uma questão que igualmente apoquentou Durão Barroso, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Armando Fernandes (um grande mestre) e outros companheiros do meu partido antes de mim, “será possível ser popular sem ser populista?”.
Questão complexa, de resposta difícil, anoto de imediato. A fronteira entre popular e populismo, em política, é ténue, muito ténue. A deriva populista é uma falácia mas quase sempre uma inevitabilidade para quem pretende ser popular. Requer um elevado espírito de concentração e disciplina mental. Mas sem se ser popular não se asseguram vitórias eleitorais.
Onde encontrar conforto? Para mim, na revisitação permanente dos clássicos, que não me foram ensinados nem dados a conhecer na minha juventude com a profundidade que hoje reconheço fazer-me falta mas que comecei a estudar com cada vez mais interesse. Olho para esses grandes criadores do pensamento, da teoria política, da ciência política, da filosofia política e da filosofia do direito com enorme respeito. Vejo neles uma elite, de Homens que quase sempre conseguiram ser imortais porque resistiram à massificação, à trivialização, porque não contribuíram para nivelar por baixo a sociedade do seu tempo.
Que enorme diferença para os dias de hoje, constato com tristeza.
Por isso, procuro fazer um exercício sério de busca interior, de trabalho pela qualidade, inserida numa sociedade aberta, plural, democrática, tolerante e humanista. Numa sociedade que tenha capacidade de regeneração e que, sem revoluções ou rudes golpes de sistema, consiga trilhar um caminho, o novo mundo de que falava no anterior texto e que (ainda) acredito ser possível alcançar durante o período da minha vida.
Para isso, tenho que ser capaz de explicar o que me separa do modelo jacobino que o PS tem vindo a desenvolver neste concelho. Por palavras simples e explicadas, demonstrar que o nosso Robespierre local não pode continuar nem passar o testemunho como se de uma oligarquia se tratasse e nela vivêssemos de modo consciente e voluntariamente desejado.Penso que vou ser capaz.
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