Pedro Marques

sábado, fevereiro 26, 2005

Assembleia Municipal

Ontem à noite realizou-se mais uma sessão da Assembleia Municipal de Abrantes. Por motivos que alguns já conhecem – frequência de mestrado na Universidade da Beira Interior, que me ocupa de momento as tardes de Sexta-feira e as manhãs de Sábado – não tive oportunidade de estar presente. Com pena, mas é apenas transitório e estou a investir na minha formação pessoal.
Sei que o meu amigo e líder de bancada do PSD na Assembleia Municipal, Armando Fernandes, por outros afazeres igualmente relevantes, não esteve presente.
Sei agora que fomos os ausentes mais presentes da reunião.
Pela parte que me diz respeito, agradeço toda a amabilidade, atenção e carinho com que me brindaram.
Ficámos todos a saber, pela exibição de prints deste blog que tenho, pelo menos, um assíduo leitor: Nelson de Carvalho. Muito obrigado pela sua preferência.
Não escrevo, contudo, a pensar no Dr. Nelson de Carvalho. Quando escrevo, penso em algo positivo.
Faço-o porque acredito num futuro melhor, mais risonho, mais próspero para a população do concelho de Abrantes, terra que amo, onde nasceram os meus avós e os avós destes e onde nasceram, também os meus filhos.
Existe ainda a agradável sensação que experimento ao compreender que a habitual “fala das gavetas” pode ser partilhada com o mundo, independentemente da qualidade do escrito ou da concordância ou discordância com o pensamento de quem escreve.
Tudo isso são motivos muito mais saudáveis e de longe mais importantes do que estar a preocupar-me com um leitor em particular, ainda para mais alguém que o faz tentando aproveitar o que encontra escrito a seu favor político, mas num modo ligeiro e sem propósito, fazendo "copy and paste" das partes que mais lhe convém.
Quanto ao que foi dito na Assembleia Municipal pelo PS e por um suposto independente, cujo nome não me recordo. Fiquem todos tranquilos. Não há o menor sinal de divergência ou contradição entre os dirigentes do PSD de Abrantes. Não estamos a pensar abandonar as nossas funções a pedido de forças externas. Nada é eterno, mas ainda é cedo para nos verem partir.
De resto, acho uma ingerência partidária um dos rostos mais proeminentes do PS de Abrantes, autor material de bom e do mau que foi feito em Abrantes, autarca com 12 anos de poder seguido, vir dar palpites sobre a vida interna do PSD. Foi um acto singular, pioneiro, que revela em acção aquilo que em teoria costuma ser negado. As acções ficam com quem as pratica.
* * *
As preocupações do PS e as atenções e mimos com que nos brindaram ontem à noite são o melhor sinal que podemos colher do seu estado de preocupação. O PSD é, hoje, uma força opositora considerada, forte e consistente, sobretudo pela população, que é quem importa, de facto. Não nos importamos que o PS tente contrariar o que nós construímos. Estão a cumprir a sua missão. O que nos importa é o que pensam as pessoas acerca daquilo que nós fazemos, pensamos e dizemos.
Creio que conseguimos, com muito esforço, conquistar o nosso espaço e sabemos que estamos perto de conseguir um feito notável para o PSD de Abrantes e para o bem do concelho.
Estou pessoalmente convencido que os eleitores sabem separar eleições legislativas de autárquicas e a indefinição do PS de Abrantes quanto ao cenário autárquico leva-os a pedir instabilidade também no PSD.
Não terão essa sorte e estamos, naturalmente, confiantes do resultado que poderemos vir a obter. Claro que os nossos adversários tudo farão para tentar impedir que isso aconteça. Seremos humildes mas firmes.
Esperamos de tudo, nas próximas eleições autárquicas. Espero pessoalmente, sobretudo, combate leal, pela força das ideias e dos argumentos. Creio que, se houve uma lição que os portugueses deram nas últimas eleições legislativas que ocorreram na passada semana, essa teve a ver com a recusa a entrar em campanhas de ataques pessoais, intrigas e ofensas.
Da minha parte, não o farei.
* * *
Sei ainda que o “Questionário” (não foi sondagem!) feito a cerca de quatro dezenas de estabelecimentos de comércio do Centro Histórico de Abrantes provocou alguma irritação aos eleitos do PS. Não foi uma sondagem, não houve extrapolação de dados para o universo por qualquer processo de inferência estatística, não houve aplicação das regras científicas das sondagens. Foi um questionário simples feito aos comerciantes, que vale pelas respostas e pelas mensagens tristes e desanimadoras que os comerciantes nos deram e pala sensação de que a culpa maior é da Câmara Municipal gerida pelo PS. É, pelo menos, essa a noção que os comerciantes têm e a pergunta era bastante aberta a outras respostas. Havia outras opções, como o Governo e houve quem o enunciasse mas a larga maioria dos comerciantes culpa Nelson Carvalho e seus pares, pelas medidas que tomaram e que conduziram à realidade que se vive no Centro Histórico. O maior cego é aquele que não quer ver, que faz como a avestruz e simula que tudo está bem. Não está nada bem. Pelo contrário.
Contra factos não há argumentos.
Claro que gosto e gostamos todos de Abrantes. Muito. Demais mesmo para a vermos continuar a afundar-se sem que nada seja feito para salvar a vida de centenas de pessoas e de postos de trabalho do chamado “cabeço”. Sabemos que todo o concelho reclama apoios e precisa igualmente de desenvolver-se mas não é negligenciável a importância estratégica que o comércio e os serviços têm de ter para a afirmação competitiva dos centros históricos, para a sua revitalização, para a sua promoção turística e cultural, para a perpetuação no futuro da memória histórica e do legado cultural que herdamos de séculos de antepassados neste território.
Um Centro Histórico não é importante apenas pela vitalidade do seu comércio e dos seus serviços. A degenerescência e decadência do mesmo implica, a prazo, o seu esvaziamento, erosão demográfica, edifícios degradados, ruínas, abandono, caos.
É isso que queremos evitar.
Precisamos de mais estacionamento e, em larga medida, estacionamento gratuito. Que coexista com estacionamento pago, que garanta rotação de lugares para quem entra e sai da cidade.
Mas, sobretudo, precisamos de trazer mais comércio e mais serviços para a cidade e evitar a sangria dos que se anunciam para breve: os serviços municipalizados, o arquivo municipal, a PSP, poderão e deverão seguir o exemplo do Centro de Emprego e da Segurança Social, a julgar pelas opções da maioria socialista.
Se os trabalhadores deste conjunto de serviços deixam de deslocar-se ao Centro Histórico e os utentes seguem o mesmo caminho, quem fica para usar os cafés e restaurantes, comprar sapatos, roupa, livros, discos, perfumes, relógios, jóias, electrodomésticos e por aí fora? Quando os trabalhadores e os utentes dos serviços públicos perdem o hábito de usar o centro histórico, quem fica? E como fazê-los regressar?
Estou em crer que é necessário apostar forte no marketing, na promoção, fazendo campanhas de fidelização, apostando na contínua melhoria dos estabelecimentos. É certo que sim mas, no estado em que o comércio se encontra já, quem possui saúde financeira para continuar a investir? E para quem? Com que garantias de retorno de negócio? E que solidariedade activa sentem os comerciantes existir proveniente dos poderes políticos de proximidade?
É muito bonito pedir aos comerciantes que invistam. Porém, quem sempre geriu dinheiro público não tem noção das dificuldades que os privados sentem e sofrem, sobretudo em momentos de crise prolongada, como é a presente. Quem nunca deu o aval a uma letra ou a uma livrança, não sentiu o efeito das noites mal dormidas pelo peso das responsabilidades assumidas.
É nessas alturas, particularmente adversas e de angústia inquietante, que os poderes públicos e privados se devem unir mais, modo a darem respostas e saídas para a crise.
Falo com conhecimento de causa.
O que é feito do projecto da Tapada da Fontinha? Porque razão não foi feito? Para onde é que a Câmara dirigiu o seu esforço de investimento? Porque motivo se investe num campo de basebol e não se podem criar mais lugares de estacionamento no centro da cidade, gratuitos, como sucede nas médias superfícies, cada vez em maior número no concelho? Porque motivo se quer investir mais num Aquapolis sempre deserto e onde se gastarão mais de 20 milhões de euros no final e não há investimento em projectos economicamente úteis, reprodutivos, geradores de mais riqueza e mais emprego?
Porque razão os investimentos têm sido canalizados, na sua maioria esmagadora, para equipamentos que apenas geram mais despesa e mais encargos de exploração corrente na conta de custos da autarquia?
Dizer isto não é uma deriva populista; é colocar o dedo na ferida, tratá-la para, a seguir, levantarmos a cabeça e encontrarmos saídas para a crise na exacta dimensão das responsabilidades municipais e seguir fazendo, melhorando, agindo proactivamente com determinação e arrojo.
Em que medida a opção pela construção de equipamentos grandes e absorventes de dinheiro público virá asfixiar a possibilidade de investirmos, nos próximos 12 anos, noutras áreas de actividade e em sectores mais produtivos, designadamente através de uma acrescida industrialização, do investimento em projectos tecnológicos, nas energias e no ambiente, na cultura e no turismo, tudo feito com potencial de negócio que garanta a todos mais qualidade de vida?
Porque motivo se faz um açude insuflável e não se cria um grande projecto de urbanismo comercial na cidade, com espaços lúdicos, culturais, fomentadores de públicos e dinamizadores da economia, do turismo e das indústrias culturais?
Porque razão não há novos espaços comerciais, com vocação social e cultural integradas, onde poderão coexistir lojas comerciais âncora, fruição, formação e execução de actividade cultural, interligação destas com a investigação, a ciência e o conhecimento e beneficiarmos da riqueza dos patrimónios naturais (rios e demais elementos da generosa natureza)?
Porque razão as políticas municipais não fomentam que todos possam usufruir dos equipamentos? Porque razão a inclusão é apenas uma palavra de dicionário?
O Centro Histórico é uma parte do concelho e da cidade mas não pode ser apenas um projecto de embelezamento de ruas, praças e demais espaços públicos. Isso é importante, mas é pouco.
O nosso projecto - o projecto que irei subscrever - vai ser inovador, dentro destas linhas que balizei.
Já sei que vamos ser copiados nalgumas ideias e que a nossa inspiração levará outros a quererem assumir a paternidade das ideias.
É assim a vida. Mas eu já me vou habituando a que nos acusem de não gostarmos de Abrantes apenas porque a estratégia tem sido a do lobo (o PSD) e do cordeiro (o PS).
Todos sabem que esta atitude e este discurso é ridículo e patético. Insistir nele é, a meu ver, um erro.
Pelo que acima ficou expresso, negar este modelo do PS, querer outro caminho, não é querer menos bem ao nosso concelho. Bem pelo contrário.
É aceitar fazê-lo e agir segundo a agenda do Desenvolvimento Sustentável.
* * *
NOTA: Por anomalia técnica, este post não foi integralmente colocado no Sábado. Domingo e Segunda-Feira não consegui passar do DashBoard. Só ontem ao final da tarde consegui. Estou a colocar a versão que escrevi no Sábado e revi no Domingo na terça-feira. Peço desculpas pelo sucedido aos meus leitores.